quarta-feira, 5 de outubro de 2011


    O milho (Zea mays) é um conhecido cereal cultivado em grande parte do mundo, pertencente a família botânica Poáceas (milho, aveia, cana-de-açúcar, pastagens e outras) anteriormente denominada de Gramineas. O milho é uma planta originária da América Central com grande capacidade de adaptação a diversos climas, sendo plantado em praticamente todas as regiões do mundo, ao nível do mar e em regiões montanhosas, em climas úmidos e regiões secas. O milho verde faz parte da culinária brasileira, originária dos índios que aqui sempre viveram. O milho-verde (assim denominado por ser colhido antes de amadurecer) é consumido verde, cozido ou assado na espiga. Existem várias espécies e variedades de milho, todas pertencentes ao gênero Zea. O milho-verde pode ser comprado na espiga, com ou sem palha. Os grãos devem estar bem desenvolvidos, porém macios e leitosos. A palha deve apresentar-se com aspecto de produto fresco e cor verde viva. Para consumo em saladas, assado ou cozido, prefira os grãos mais novos. O milho também pode ser consumido na forma de suco e ingrediente para fabricação de bolo, biscoitos, sorvetes e pamonhas. A planta de milho pode ser aproveitada praticamente em sua totalidade. Após a comercialização das espigas, os restos da planta podem ser aproveitados para posterior incorporação ou como cobertura do solo para plantio direto, ou ainda, sendo triturado para compor a silagem para a alimentação animal.
    O milho é um dos alimentos mais nutritivos que existem. Além dos minerais, o milho verde é rico em vitaminas, em especial as do complexo B, muito importante para o bom funcionamento do sistema nervoso. Estudos realizados na Espanha revelaram que o consumo de milho, associado a cerejas, aveia e vinho tinto, retarda os efeitos da idade no organismo. A razão seria que esses alimentos apresentam alto teor de melatonina, substância produzida em pequenas quantidades pelo corpo, que tem propriedades antioxidantes e atrasa a degeneração. Além disso, o grão também contribui para adiar os processos inflamatórios naturais do envelhecimento, portanto, ajuda a manter o corpo jovem por mais tempo.
  A produção do milho-verde agrega valor, permitindo o uso de mão-de-obra familiar, movimentando o comércio e a indústria caseira. É uma atividade quase que exclusiva de pequenos e médios agricultores. Atualmente, as principais características exigidas pelo mercado para o milho verde são: grãos dentados amarelos, grãos uniformes, espigas longas e cilíndricas (espigas maiores que 15 cm de comprimento e 3 cm de diâmetro), sabugo fino e claro, boa granação, pericarpo delicado e bom empalhamento (espigas bem empalhadas de coloração verde intensa), boa produtividade, alta capacidade de produção de massa e baixa produção de bagaço e tolerância às principais pragas e doenças.
Escolha correta da área e análise do solo
   Recomendam-se áreas não cultivadas com espécies da mesma família botânica (poáceas) nos últimos anos. Solos de textura média, com teores de argila em torno de 30-35% ou mesmo argilosos, com boa estrutura que possibilitam adequada drenagem apresentam boa capacidade de retenção de água e de nutrientes disponíveis às plantas, são os mais recomendados para a cultura do milho. Os solos arenosos (teor de argila inferior a 15%) devem ser evitados, devido à sua baixa capacidade de retenção de água e nutrientes disponíveis às plantas.Preferencialmente, devem-se utilizar solos leves e profundos, com mais de 3,5% de matéria orgânica e com boa drenagem. A análise do solo deve ser feita com antecedência para conhecimento da fertilidade e acidez do solo. Com base nessa análise, o técnico do município poderá fazer a recomendação adequada da acidez do solo e adubação orgânica.
Época de Plantio e Cultivares
   O plantio de uma lavoura deve ser muito bem planejado. O planejamento começa com a compra de uma boa semente. A melhor época de plantio coincide com o início do período chuvoso de cada região, embora os melhores preços sejam obtidos na entressafra ou plantios irrigados de inverno. Pesquisas realizadas mostram que a melhor época para se plantar milho na região Sul, vai da segunda quinzena de setembro até o final da primeira quinzena de novembro, sendo a melhor época em 15 de outubro. No entanto, tendo em vista o bom mercado do milho verde especialmente no Litoral, em função do aumento da população nas praias, é interessante o escalonamento da produção, podendo-se obter boas produções nos meses de dezembro e até janeiro. Especialmente nestes últimos dois meses recomenda-se a consorciação do milho verde com mucuna anã, com o objetivo de cobrir o solo, reduzir a infestação de plantas espontâneas e, especialmente, melhorar a fertilidade do solo. Existem no mercado inúmeros híbridos de milho com resistência à maioria das doenças e com boas características para produção de milho verde. Recomenda-se, no entanto, ao escolher o híbrido, consultar um técnico para que ele indique os melhores materiais visando a produção de milho verde. Também são oferecidos no mercado, embora em menor número, cultivares com boa produtividade e qualidade de espigas visando a produção de milho verde. É importante ressaltar que no cultivo orgânico não é permitido o uso de cultivares transgênicas.
Preparo do solo e plantio
   No cultivo orgânico deve-se evitar o revolvimento do solo, por isso, a técnica de plantio direto vem crescendo muito, dispensando o preparo tradicional do solo, embora exige maior conhecimento técnico e máquinas apropriadas, além da produção anual de massa verde para palhada. O plantio direto na palha facilita muito a conservação do solo, por diminuir em até 70% as perdas de solo por erosão, além de conservar a umidade e reduzir as plantas espontâneas. Quando o terreno não é plano, a plantação deve ser feita em curva de nível. O plantio pode ser manual, com enxadas ou plantadeiras, e em covas distanciadas um metro entre as linhas e 50 cm entre as covas com 3 sementes cada uma ou com plantadeiras, com sementes de 20 em 20 cm. Quando a semente fica depositada no sulco de plantio a uma profundidade de 5cm e o adubo a uma profundidade de 10 a 15cm, tem-se os melhores resultados.
Adubação orgânica
   Tanto a adubação de plantio como de cobertura deve ser conforme recomendação, baseada na análise do solo e nos teores de nutrientes do adubo orgânico. Recomenda-se, preferencialmente, o composto orgânico que pode ser aplicado por ocasião do plantio. O adubo orgânico, especialmente se for esterco de animais (aves ou de gado), deve ser curtido e uniformemente incorporado ao solo, no sulco, de preferência 10 a 15 dias antes do plantio das sementes.
Tratos culturais
Capinas: após a germinação, há necessidade de controlar o desenvolvimento de plantas espontâneas que aparecem junto à cultura. Normalmente, dependendo da infestação de plantas espontâneas, 2 a 3 capinas são suficientes para manter a cultura no limpo até os 35-40 dias, época da adubação de cobertura. Passada essa fase, as plantas espontâneas não tem mais condições de concorrer com as plantas de milho devido ao seu rápido desenvolvimento e conseqüente sombreamento do solo, criando condições desfavoráveis para as plantas espontâneas. No cultivo orgânico, as plantas espontâneas são consideradas "amigas" dos cultivos, por isso, recomenda-se as capinas somente nas linhas de plantio (faixas de 20cm), deixando-as nas entrelinhas e roçando-as somente quando necessário. Recomenda-se também, sempre que possível, semear os adubos verdes no outono (aveia, ervilhaca e nabo forrageiro, isoladamente ou em consórcio) e o cultivo mínimo do milho no final do inverno e início de primavera, preparando-se apenas a linha de plantio e roçando, quando necessário, nas entrelinhas (Figuras 1,2 e 3).
Irrigação o efeito da falta de água, associado à produção de grãos, é particularmente importante em três estádios de desenvolvimento da planta: a) iniciação floral e desenvolvimento da inflorescência, quando o número potencial de grãos é determinado; b) período de fertilização, quando o potencial de produção é fixado; c) enchimento de grãos. As máximas produtividades ocorrem quando o consumo de água durante todo o ciclo está entre 500 e 800mm. A cultura exige um mínimo de 350-500mm para que produza sem necessidade de irrigação. Dois dias de estresse hídrico no florescimento, diminuem o rendimento em mais de 20%, sendo que quatro a oito dias diminuem em mais de 50%.
 Figura 1. Cultivo mínimo de tomate (à esquerda) e milho-verde (à direita), na fase inicial de desenvolvimento das plantas, sobre consórcio de adubos verdes (aveia + ervilhaca+nabo forrageiro) semeados no outono
Figura 2. Cultivo mínimo de tomate (à esquerda) e milho-verde (à direita), na fase intermediária de desenvolvimento das plantas, sobre consórcio de adubos verdes (aveia + ervilhaca+nabo forrageiro) semeados no outono
 Figura 3. Cultivo mínimo de milho-verde orgânico (fase de florescimento) sobre consórcio de adubos verdes semeados no outono

Manejo de doenças e pragas
    A cultura do milho está sujeita à ocorrência de algumas doenças e pragas que podem afetar a produção, a qualidade, a palatabilidade e o valor nutritivo dos grãos. As principais doenças são: doenças foliares e podridões das raízes, do colmo e espiga. Manejo: as principais medidas para o manejo das doenças é o uso de cultivares resistentes, rotação de culturas, manejo adequado da irrigação e, especialmente a eliminação através da compostagem ou enterrio, de restos de cultura onde ocorreu as doenças. Dentre as pragas destacam-se:
Lagarta-do-cartucho ou militar (Spodoptera frugiperda): é considerada a principal praga da cultura do milho no Brasil. É uma borboleta com asas anteriores pardo-escuras e posteriores branco-acinzentadas. As fêmeas colocam os ovos na parte superior das folhas. As lagartas são de cor pardo-escuro, verde e preta. Após a alimentação empupam no solo. Possui ciclo de vida de 36 a 86 dias. Danos: raspagem até destruição das folhas com prejuízo de 20% na produção, aumentando em épocas mais quentes e secas do ano. O ataque ocorre desde a emergência do milho até o pendoamento e espigamento. Manejo: controle biológico com a bactéria Bacillus thurigiensis, vendido comercialmente com o nome de Dipel e outros produtos, a partir do início do ataque das plantas.
Vaquinhas: os adultos são insetos polífagos (atacam várias culturas), pequenos besouros de cores variadas - verde-amarelo (Diabrotica), preto com manchas amarelas (Cerotoma) – Figura 4, verde metálica (Colaspis) e, tamanho aproximado de 10 mm. Ovos branco-amarelado são colocados isoladamente em fendas no solo. A larva conhecida como larva-alfinete (Figura 5) pode chegar até 10 mm de tamanho, alimentando-se de raízes de plantas (Figura 6) e tubérculos de batata. Na fase de larva os prejuízos são irreversíveis, pois tombam as plantinhas recém-emergidas (milho, feijão, feijão-vagem e outras) e furando raízes e tubérculos. Danos: os furos causados pelos insetos adultos nas folhas, associados aos danos causados pelas larvas, acarretam perdas na produtividade e qualidade dos cultivos.
Lagarta-da-espiga (Helicoverpa zea) : ataca as espigas desde o início da formação dos grãos e durante a fase do estado leitoso, podendo também atacar as folhas. Além de destruir em parte as espigas, deixa orifícios na palha, por onde penetram fungos e outros microorganismos e água de chuva, concorrendo assim para a deterioração da espiga. Seu controle é difícil, pois a lagarta aloja-se dentro da espiga e fica muito bem protegida.
Figura 4. Vaquinha na fase de adulto causa danos através do desfolhamento das plantas, especialmente no início de desenvolvimento das culturas.
 Figura 5. Vaquinha na fase de larva causa danos nas raízes das plantas recém-emergidas e também em raízes de batata-doce e tubérculos de batata (larva- alfinete)
 
   Figura 6. Danos nas raízes de milho, provocados pela larva-alfinete (vaquinha na fase de larva)


Rotação e consorciação de culturas
    O cultivo intensivo das mesmas espécies de hortaliças na mesma área esgota o solo em certos nutrientes e aumenta a ocorrência de doenças, pragas e plantas espontâneas. Para não confundir os diferentes sistemas de produção de hortaliças é preciso definir cada um deles:
Monocultura: é o uso continuado de uma mesma cultura, numa mesma estação de crescimento e numa mesma área. Todos os anos a mesma ou as mesmas espécies são semeadas ou plantadas no mesmo local.
Sucessão de culturas: é o estabelecimento de duas ou mais espécies em seqüência na mesma área, em um período igual ou inferior a 12 meses.
Consorciação de culturas: é o estabelecimento de duas ou mais espécies simultaneamente na mesma área. Neste tipo de cultivo há competição interespecífica em parte ou em todo o ciclo de desenvolvimento da cultura.
A rotação de culturas pode ser definida como o cultivo alternado de diferentes espécies vegetais no mesmo local e na mesma estação do ano, seguindo-se um plano predefinido, de acordo com princípios básicos. Dentre estes, destacam-se:
- não cultivar, no mesmo lugar, hortaliças da mesma família botânica, pois essas espécies estão sujeitas às mesmas pragas, doenças e plantas espontâneas. É o princípio de "matar de fome" os insetos, os fungos e as bactérias que atacam as plantas cultivadas;
- o plantio de espécies de famílias botânicas diferentes na mesma área também é importante, devido às diferenças de exigências nutricionais e de sistema radicular das espécies de plantas incluídas no sistema de rotação de culturas.
Rotação e consórcio com adubos verdes: a adubação verde é altamente recomendável para o sucesso da agricultura orgânica. No entanto, muitas vezes para pequenos produtores, devido a escassez de áreas, esta prática torna-se difícil, pois não poderia ter um retorno econômico. Uma alternativa viável técnica e econômica seria fazer o consórcio das hortaliças com os adubos verdes de inverno e de verão. Estes adubos verdes, além de cobrirem o solo, evitando a erosão, reduzem a infestação de plantas espontâneas, reciclam os nutrientes devido aos diferentes sistemas radiculares e, ainda melhoram a fertilidade do solo. Entre os adubos verdes de inverno, destacam-se a aveia, ervilhaca e nabo forrageiro (Figuras 1 e 2), que podem serem semeados no outono; a aveia tem como principal função a cobertura do solo, inibindo as plantas espontâneas, enquanto que a ervilhaca, por fixar o nitrogênio, melhora a fertilidade do solo e, por último o nabo forrageiro, devido ao sistema radicular, ajuda na descompactação do solo. Entre os adubos verdes de verão, destaca-se a mucuna anã que pode ser semeada nos meses de dezembro e janeiro, juntamente com o milho verde na mesma linha de plantio; ao ser colhido o milho verde, onde tem um bom retorno econômico a mucuna toma conta de toda a área (Figura 7), protegendo-a da erosão e das plantas espontâneas e melhorando a fertilidade do solo, além de reciclar os nutrientes que estão nas camadas mais profundas do solo. No inverno, a mucuna, em função do frio, seca sozinha, deixando a área pronta para o plantio direto de hortaliças no final do inverno. Caso não ocorra geada, há necessidade de roçar a mucuna com rolo-faca, especialmente em lavouras maiores.
  Figura 7. As leguminosas, como a mucuna anã, são ótimas opções para rotação e consorciação com milho por possuírem grande capacidade de melhorar a fertilidade e cobrir rapidamente o solo, reduzindo as plantas espontâneas, inibindo a presença de plantas espontâneas (ex.: tiririca, picão-preto e branco, capimcarrapicho e capim paulista), fixando o nitrogênio do ar e reciclando nutrientes do solo devido ao sistema radicular profundo.

Colheita
   O milho verde exige precisão do produtor na colheita e rapidez na comercialização. O milho híbrido passa do ponto muito rapidamente, apresentando um período útil de colheita (tempo de permanência em fase de milho verde) de aproximadamente 4 a 5 dias, exigindo precisão do produtor na colheita e rapidez na comercialização. O milho verde é mais precoce que o seco (milho normal), sendo colhido na fase chamada de grão leitoso e pastoso (fase iniciada normalmente entre 20 e 25 dias após a polinização), podendo ser colhido aos 90 dias, enquanto que o outro só fica no ponto aos 150 dias, no cultivo de verão. Na colheita de milho verde, nem todas as espigas são comercializáveis, havendo uma produção de palhada e espigas não comercializáveis que poderá ser utilizada como forragem ou como adubação orgânica. O cultivo de milho verde é quase exclusivo de pequenos e médios agricultores, que produzem em pequena escala e fazem a colheita do produto manualmente. Na colheita do milho verde em espiga, deve-se adotar cuidados e procedimentos utilizados na colheita de hortaliças, tais como: colher nos momentos mais frescos do dia; manusear as espigas com cuidado e à sombra, para evitar perda de umidade dos grãos; classificar ou padronizar as espigas por tamanho e encaixotar. O milho verde é colhido quando os grãos estão no estado leitoso, ou seja, com 70 a 80% de umidade. O milho verde é altamente perecível e perde rapidamente o sabor adocicado em razão da transformação da sacarose em amido nos grãos. O milho verde sem palha é frequentemente comercializado nas embalagens plástica, em ambiente refrigerado. Este produto não pode ficar fora de refrigeração nem por pouco tempo. A forma mais usual de embalar o milho verde tem sido o envolvimento do produto sobre uma bandeja de isopor com um filme de PVC. Sem refrigeração o milho verde precisa ser comercializado em um único dia. Com o uso de refrigeração pode fica 1 a 3 dias em balcões refrigerados sob umidade elevada. As espigas conservadas com palha tendem a ter melhor proteção contra a perda de água. Normalmente, o tempo de comercialização das espigas verdes empaladas é de 3 a 5 dias quando mantidas em temperatura ambiente.
Ferreira On 10/05/2011 01:22:00 PM Comentarios

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quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Cultivo orgânico de milho-verde


    O milho (Zea mays) é um conhecido cereal cultivado em grande parte do mundo, pertencente a família botânica Poáceas (milho, aveia, cana-de-açúcar, pastagens e outras) anteriormente denominada de Gramineas. O milho é uma planta originária da América Central com grande capacidade de adaptação a diversos climas, sendo plantado em praticamente todas as regiões do mundo, ao nível do mar e em regiões montanhosas, em climas úmidos e regiões secas. O milho verde faz parte da culinária brasileira, originária dos índios que aqui sempre viveram. O milho-verde (assim denominado por ser colhido antes de amadurecer) é consumido verde, cozido ou assado na espiga. Existem várias espécies e variedades de milho, todas pertencentes ao gênero Zea. O milho-verde pode ser comprado na espiga, com ou sem palha. Os grãos devem estar bem desenvolvidos, porém macios e leitosos. A palha deve apresentar-se com aspecto de produto fresco e cor verde viva. Para consumo em saladas, assado ou cozido, prefira os grãos mais novos. O milho também pode ser consumido na forma de suco e ingrediente para fabricação de bolo, biscoitos, sorvetes e pamonhas. A planta de milho pode ser aproveitada praticamente em sua totalidade. Após a comercialização das espigas, os restos da planta podem ser aproveitados para posterior incorporação ou como cobertura do solo para plantio direto, ou ainda, sendo triturado para compor a silagem para a alimentação animal.
    O milho é um dos alimentos mais nutritivos que existem. Além dos minerais, o milho verde é rico em vitaminas, em especial as do complexo B, muito importante para o bom funcionamento do sistema nervoso. Estudos realizados na Espanha revelaram que o consumo de milho, associado a cerejas, aveia e vinho tinto, retarda os efeitos da idade no organismo. A razão seria que esses alimentos apresentam alto teor de melatonina, substância produzida em pequenas quantidades pelo corpo, que tem propriedades antioxidantes e atrasa a degeneração. Além disso, o grão também contribui para adiar os processos inflamatórios naturais do envelhecimento, portanto, ajuda a manter o corpo jovem por mais tempo.
  A produção do milho-verde agrega valor, permitindo o uso de mão-de-obra familiar, movimentando o comércio e a indústria caseira. É uma atividade quase que exclusiva de pequenos e médios agricultores. Atualmente, as principais características exigidas pelo mercado para o milho verde são: grãos dentados amarelos, grãos uniformes, espigas longas e cilíndricas (espigas maiores que 15 cm de comprimento e 3 cm de diâmetro), sabugo fino e claro, boa granação, pericarpo delicado e bom empalhamento (espigas bem empalhadas de coloração verde intensa), boa produtividade, alta capacidade de produção de massa e baixa produção de bagaço e tolerância às principais pragas e doenças.
Escolha correta da área e análise do solo
   Recomendam-se áreas não cultivadas com espécies da mesma família botânica (poáceas) nos últimos anos. Solos de textura média, com teores de argila em torno de 30-35% ou mesmo argilosos, com boa estrutura que possibilitam adequada drenagem apresentam boa capacidade de retenção de água e de nutrientes disponíveis às plantas, são os mais recomendados para a cultura do milho. Os solos arenosos (teor de argila inferior a 15%) devem ser evitados, devido à sua baixa capacidade de retenção de água e nutrientes disponíveis às plantas.Preferencialmente, devem-se utilizar solos leves e profundos, com mais de 3,5% de matéria orgânica e com boa drenagem. A análise do solo deve ser feita com antecedência para conhecimento da fertilidade e acidez do solo. Com base nessa análise, o técnico do município poderá fazer a recomendação adequada da acidez do solo e adubação orgânica.
Época de Plantio e Cultivares
   O plantio de uma lavoura deve ser muito bem planejado. O planejamento começa com a compra de uma boa semente. A melhor época de plantio coincide com o início do período chuvoso de cada região, embora os melhores preços sejam obtidos na entressafra ou plantios irrigados de inverno. Pesquisas realizadas mostram que a melhor época para se plantar milho na região Sul, vai da segunda quinzena de setembro até o final da primeira quinzena de novembro, sendo a melhor época em 15 de outubro. No entanto, tendo em vista o bom mercado do milho verde especialmente no Litoral, em função do aumento da população nas praias, é interessante o escalonamento da produção, podendo-se obter boas produções nos meses de dezembro e até janeiro. Especialmente nestes últimos dois meses recomenda-se a consorciação do milho verde com mucuna anã, com o objetivo de cobrir o solo, reduzir a infestação de plantas espontâneas e, especialmente, melhorar a fertilidade do solo. Existem no mercado inúmeros híbridos de milho com resistência à maioria das doenças e com boas características para produção de milho verde. Recomenda-se, no entanto, ao escolher o híbrido, consultar um técnico para que ele indique os melhores materiais visando a produção de milho verde. Também são oferecidos no mercado, embora em menor número, cultivares com boa produtividade e qualidade de espigas visando a produção de milho verde. É importante ressaltar que no cultivo orgânico não é permitido o uso de cultivares transgênicas.
Preparo do solo e plantio
   No cultivo orgânico deve-se evitar o revolvimento do solo, por isso, a técnica de plantio direto vem crescendo muito, dispensando o preparo tradicional do solo, embora exige maior conhecimento técnico e máquinas apropriadas, além da produção anual de massa verde para palhada. O plantio direto na palha facilita muito a conservação do solo, por diminuir em até 70% as perdas de solo por erosão, além de conservar a umidade e reduzir as plantas espontâneas. Quando o terreno não é plano, a plantação deve ser feita em curva de nível. O plantio pode ser manual, com enxadas ou plantadeiras, e em covas distanciadas um metro entre as linhas e 50 cm entre as covas com 3 sementes cada uma ou com plantadeiras, com sementes de 20 em 20 cm. Quando a semente fica depositada no sulco de plantio a uma profundidade de 5cm e o adubo a uma profundidade de 10 a 15cm, tem-se os melhores resultados.
Adubação orgânica
   Tanto a adubação de plantio como de cobertura deve ser conforme recomendação, baseada na análise do solo e nos teores de nutrientes do adubo orgânico. Recomenda-se, preferencialmente, o composto orgânico que pode ser aplicado por ocasião do plantio. O adubo orgânico, especialmente se for esterco de animais (aves ou de gado), deve ser curtido e uniformemente incorporado ao solo, no sulco, de preferência 10 a 15 dias antes do plantio das sementes.
Tratos culturais
Capinas: após a germinação, há necessidade de controlar o desenvolvimento de plantas espontâneas que aparecem junto à cultura. Normalmente, dependendo da infestação de plantas espontâneas, 2 a 3 capinas são suficientes para manter a cultura no limpo até os 35-40 dias, época da adubação de cobertura. Passada essa fase, as plantas espontâneas não tem mais condições de concorrer com as plantas de milho devido ao seu rápido desenvolvimento e conseqüente sombreamento do solo, criando condições desfavoráveis para as plantas espontâneas. No cultivo orgânico, as plantas espontâneas são consideradas "amigas" dos cultivos, por isso, recomenda-se as capinas somente nas linhas de plantio (faixas de 20cm), deixando-as nas entrelinhas e roçando-as somente quando necessário. Recomenda-se também, sempre que possível, semear os adubos verdes no outono (aveia, ervilhaca e nabo forrageiro, isoladamente ou em consórcio) e o cultivo mínimo do milho no final do inverno e início de primavera, preparando-se apenas a linha de plantio e roçando, quando necessário, nas entrelinhas (Figuras 1,2 e 3).
Irrigação o efeito da falta de água, associado à produção de grãos, é particularmente importante em três estádios de desenvolvimento da planta: a) iniciação floral e desenvolvimento da inflorescência, quando o número potencial de grãos é determinado; b) período de fertilização, quando o potencial de produção é fixado; c) enchimento de grãos. As máximas produtividades ocorrem quando o consumo de água durante todo o ciclo está entre 500 e 800mm. A cultura exige um mínimo de 350-500mm para que produza sem necessidade de irrigação. Dois dias de estresse hídrico no florescimento, diminuem o rendimento em mais de 20%, sendo que quatro a oito dias diminuem em mais de 50%.
 Figura 1. Cultivo mínimo de tomate (à esquerda) e milho-verde (à direita), na fase inicial de desenvolvimento das plantas, sobre consórcio de adubos verdes (aveia + ervilhaca+nabo forrageiro) semeados no outono
Figura 2. Cultivo mínimo de tomate (à esquerda) e milho-verde (à direita), na fase intermediária de desenvolvimento das plantas, sobre consórcio de adubos verdes (aveia + ervilhaca+nabo forrageiro) semeados no outono
 Figura 3. Cultivo mínimo de milho-verde orgânico (fase de florescimento) sobre consórcio de adubos verdes semeados no outono

Manejo de doenças e pragas
    A cultura do milho está sujeita à ocorrência de algumas doenças e pragas que podem afetar a produção, a qualidade, a palatabilidade e o valor nutritivo dos grãos. As principais doenças são: doenças foliares e podridões das raízes, do colmo e espiga. Manejo: as principais medidas para o manejo das doenças é o uso de cultivares resistentes, rotação de culturas, manejo adequado da irrigação e, especialmente a eliminação através da compostagem ou enterrio, de restos de cultura onde ocorreu as doenças. Dentre as pragas destacam-se:
Lagarta-do-cartucho ou militar (Spodoptera frugiperda): é considerada a principal praga da cultura do milho no Brasil. É uma borboleta com asas anteriores pardo-escuras e posteriores branco-acinzentadas. As fêmeas colocam os ovos na parte superior das folhas. As lagartas são de cor pardo-escuro, verde e preta. Após a alimentação empupam no solo. Possui ciclo de vida de 36 a 86 dias. Danos: raspagem até destruição das folhas com prejuízo de 20% na produção, aumentando em épocas mais quentes e secas do ano. O ataque ocorre desde a emergência do milho até o pendoamento e espigamento. Manejo: controle biológico com a bactéria Bacillus thurigiensis, vendido comercialmente com o nome de Dipel e outros produtos, a partir do início do ataque das plantas.
Vaquinhas: os adultos são insetos polífagos (atacam várias culturas), pequenos besouros de cores variadas - verde-amarelo (Diabrotica), preto com manchas amarelas (Cerotoma) – Figura 4, verde metálica (Colaspis) e, tamanho aproximado de 10 mm. Ovos branco-amarelado são colocados isoladamente em fendas no solo. A larva conhecida como larva-alfinete (Figura 5) pode chegar até 10 mm de tamanho, alimentando-se de raízes de plantas (Figura 6) e tubérculos de batata. Na fase de larva os prejuízos são irreversíveis, pois tombam as plantinhas recém-emergidas (milho, feijão, feijão-vagem e outras) e furando raízes e tubérculos. Danos: os furos causados pelos insetos adultos nas folhas, associados aos danos causados pelas larvas, acarretam perdas na produtividade e qualidade dos cultivos.
Lagarta-da-espiga (Helicoverpa zea) : ataca as espigas desde o início da formação dos grãos e durante a fase do estado leitoso, podendo também atacar as folhas. Além de destruir em parte as espigas, deixa orifícios na palha, por onde penetram fungos e outros microorganismos e água de chuva, concorrendo assim para a deterioração da espiga. Seu controle é difícil, pois a lagarta aloja-se dentro da espiga e fica muito bem protegida.
Figura 4. Vaquinha na fase de adulto causa danos através do desfolhamento das plantas, especialmente no início de desenvolvimento das culturas.
 Figura 5. Vaquinha na fase de larva causa danos nas raízes das plantas recém-emergidas e também em raízes de batata-doce e tubérculos de batata (larva- alfinete)
 
   Figura 6. Danos nas raízes de milho, provocados pela larva-alfinete (vaquinha na fase de larva)


Rotação e consorciação de culturas
    O cultivo intensivo das mesmas espécies de hortaliças na mesma área esgota o solo em certos nutrientes e aumenta a ocorrência de doenças, pragas e plantas espontâneas. Para não confundir os diferentes sistemas de produção de hortaliças é preciso definir cada um deles:
Monocultura: é o uso continuado de uma mesma cultura, numa mesma estação de crescimento e numa mesma área. Todos os anos a mesma ou as mesmas espécies são semeadas ou plantadas no mesmo local.
Sucessão de culturas: é o estabelecimento de duas ou mais espécies em seqüência na mesma área, em um período igual ou inferior a 12 meses.
Consorciação de culturas: é o estabelecimento de duas ou mais espécies simultaneamente na mesma área. Neste tipo de cultivo há competição interespecífica em parte ou em todo o ciclo de desenvolvimento da cultura.
A rotação de culturas pode ser definida como o cultivo alternado de diferentes espécies vegetais no mesmo local e na mesma estação do ano, seguindo-se um plano predefinido, de acordo com princípios básicos. Dentre estes, destacam-se:
- não cultivar, no mesmo lugar, hortaliças da mesma família botânica, pois essas espécies estão sujeitas às mesmas pragas, doenças e plantas espontâneas. É o princípio de "matar de fome" os insetos, os fungos e as bactérias que atacam as plantas cultivadas;
- o plantio de espécies de famílias botânicas diferentes na mesma área também é importante, devido às diferenças de exigências nutricionais e de sistema radicular das espécies de plantas incluídas no sistema de rotação de culturas.
Rotação e consórcio com adubos verdes: a adubação verde é altamente recomendável para o sucesso da agricultura orgânica. No entanto, muitas vezes para pequenos produtores, devido a escassez de áreas, esta prática torna-se difícil, pois não poderia ter um retorno econômico. Uma alternativa viável técnica e econômica seria fazer o consórcio das hortaliças com os adubos verdes de inverno e de verão. Estes adubos verdes, além de cobrirem o solo, evitando a erosão, reduzem a infestação de plantas espontâneas, reciclam os nutrientes devido aos diferentes sistemas radiculares e, ainda melhoram a fertilidade do solo. Entre os adubos verdes de inverno, destacam-se a aveia, ervilhaca e nabo forrageiro (Figuras 1 e 2), que podem serem semeados no outono; a aveia tem como principal função a cobertura do solo, inibindo as plantas espontâneas, enquanto que a ervilhaca, por fixar o nitrogênio, melhora a fertilidade do solo e, por último o nabo forrageiro, devido ao sistema radicular, ajuda na descompactação do solo. Entre os adubos verdes de verão, destaca-se a mucuna anã que pode ser semeada nos meses de dezembro e janeiro, juntamente com o milho verde na mesma linha de plantio; ao ser colhido o milho verde, onde tem um bom retorno econômico a mucuna toma conta de toda a área (Figura 7), protegendo-a da erosão e das plantas espontâneas e melhorando a fertilidade do solo, além de reciclar os nutrientes que estão nas camadas mais profundas do solo. No inverno, a mucuna, em função do frio, seca sozinha, deixando a área pronta para o plantio direto de hortaliças no final do inverno. Caso não ocorra geada, há necessidade de roçar a mucuna com rolo-faca, especialmente em lavouras maiores.
  Figura 7. As leguminosas, como a mucuna anã, são ótimas opções para rotação e consorciação com milho por possuírem grande capacidade de melhorar a fertilidade e cobrir rapidamente o solo, reduzindo as plantas espontâneas, inibindo a presença de plantas espontâneas (ex.: tiririca, picão-preto e branco, capimcarrapicho e capim paulista), fixando o nitrogênio do ar e reciclando nutrientes do solo devido ao sistema radicular profundo.

Colheita
   O milho verde exige precisão do produtor na colheita e rapidez na comercialização. O milho híbrido passa do ponto muito rapidamente, apresentando um período útil de colheita (tempo de permanência em fase de milho verde) de aproximadamente 4 a 5 dias, exigindo precisão do produtor na colheita e rapidez na comercialização. O milho verde é mais precoce que o seco (milho normal), sendo colhido na fase chamada de grão leitoso e pastoso (fase iniciada normalmente entre 20 e 25 dias após a polinização), podendo ser colhido aos 90 dias, enquanto que o outro só fica no ponto aos 150 dias, no cultivo de verão. Na colheita de milho verde, nem todas as espigas são comercializáveis, havendo uma produção de palhada e espigas não comercializáveis que poderá ser utilizada como forragem ou como adubação orgânica. O cultivo de milho verde é quase exclusivo de pequenos e médios agricultores, que produzem em pequena escala e fazem a colheita do produto manualmente. Na colheita do milho verde em espiga, deve-se adotar cuidados e procedimentos utilizados na colheita de hortaliças, tais como: colher nos momentos mais frescos do dia; manusear as espigas com cuidado e à sombra, para evitar perda de umidade dos grãos; classificar ou padronizar as espigas por tamanho e encaixotar. O milho verde é colhido quando os grãos estão no estado leitoso, ou seja, com 70 a 80% de umidade. O milho verde é altamente perecível e perde rapidamente o sabor adocicado em razão da transformação da sacarose em amido nos grãos. O milho verde sem palha é frequentemente comercializado nas embalagens plástica, em ambiente refrigerado. Este produto não pode ficar fora de refrigeração nem por pouco tempo. A forma mais usual de embalar o milho verde tem sido o envolvimento do produto sobre uma bandeja de isopor com um filme de PVC. Sem refrigeração o milho verde precisa ser comercializado em um único dia. Com o uso de refrigeração pode fica 1 a 3 dias em balcões refrigerados sob umidade elevada. As espigas conservadas com palha tendem a ter melhor proteção contra a perda de água. Normalmente, o tempo de comercialização das espigas verdes empaladas é de 3 a 5 dias quando mantidas em temperatura ambiente.

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